Era depois da meia-noite de uma terça-feira na Atlantic Avenue, no Brooklyn. Joe Gomez e a diretora do filme, Lilly Winter haviam acabado de encerrar a tradicional noite de vinil no PIPS, ao lado de Laura (aka L Vibes). Os três atravessaram a rua para um último drink no Long Island Bar, sentando-se sob um letreiro de néon que dizia “No Dancing”.
Joe começou a relembrar os tempos em que dançar era, de fato, ilegal — a Lei dos Cabarés de 1929, criada para reprimir o jazz, a cultura negra e outras comunidades marginalizadas. A conversa logo se transformou em uma reflexão sobre o poder transformador da música e sobre como, ao longo das décadas, ela tem sido uma força vital na redefinição da identidade de Nova York. Falaram sobre o papel dos DJs residentes — pessoas que dedicaram a vida a garimpar discos — e sobre como elas ajudaram a construir os espaços mais icônicos da cidade, de Larry Levan a Kenny Carpenter, no lendário Paradise Garage.
Durante o período em que o documentário foi sendo concebido, Joe compartilhou inúmeras histórias sobre sua trajetória no submundo musical nova-iorquino. Hoje, vivemos no brilho residual da era dourada de lugares como The Loft e Paradise Garage. O legado de David Mancuso e Larry Levan deixou o que Joe chama de “fragmentos” espalhados pelo mundo. A diretora, no entanto, prefere chamá-los de sementes — plantadas e cultivadas globalmente por aqueles influenciados pela cultura da música dançante dos anos 1970 e 1980.
O universo das festas underground — com suas raízes profundas, integridade e senso de pertencimento — foi um dos motivos que levaram a diretora a encontrar maneiras de permanecer em Nova York por quase uma década. Com apenas um mês antes do vencimento do visto, ela sabia que precisava registrar e compartilhar aquela magia. Ao ouvir Joe naquela noite, sob o letreiro “No Dancing”, teve a certeza de que a melhor maneira seria colocar Diggers para entrevistar Diggers. Graças a Asen James e Spencer Blake (conhecidos como SPASE), que aceitaram conduzir a entrevista com Joe, a equipe viajou para o interior do estado e filmou a maior parte da conversa no solstício de verão, em junho de 2024.
Hoje, os discos de vinil voltam a ocupar espaço. Bares de escuta e lojas de discos ressurgem como polos culturais. Entramos em uma nova era — um tempo em que as pessoas redescobrem a importância da conexão humana. Cansadas do eco impessoal dos algoritmos, elas buscam espaços bem curados, onde a música possa, de fato, reunir pessoas.
Ao compartilhar as histórias de veteranos como Joe, o filme busca inspirar as novas gerações de seletores a levar adiante essa sabedoria — que a música continue sendo uma ferramenta de transformação e que a luz siga brilhando intensamente nas pistas de dança do futuro.
Lilly Winter é uma artista e DJ britânico-canadense multidisciplinar, atualmente radicada em Lisboa.
Formada com honras pelo Borough of Manhattan Community College, da City University of New York, Lilly tem sua prática centrada principalmente em fotografia e vídeo. Seu trabalho nasceu das experiências de viajar sozinha pelo mundo, em meio a desafios pessoais, estabilidade e ao desejo de romper com padrões herdados. Ao capturar camadas de perspectivas complexas, sua obra investiga questões existenciais sobre família, relações e o verdadeiro significado de “lar”.
“Suas imagens convidam o espectador a participar de um diálogo crítico, a explorar o encantamento do mundo natural e refletir sobre o nosso lugar dentro dele.” — Natasha Lunn, Diretora Visual da Harper’s Bazaar U.S.
Lilly parte da convicção de que o pensamento criativo, a prática artística e o diálogo são fundamentais para o crescimento e para a construção de conexões humanas.





