Eu não sei por onde começar, como quase tudo o que faço.
O início é tão importante, tem o poder de te direcionar. A primeira pintura abre um portal para sua sequência e tudo vira uma grande série que se conecta.
Dar início a essa nova série de pintura foi um parto árduo, foram dois meses de bloqueio criativo. Fiquei me questionando se é possível o artista separar a vida da arte… Particularmente, percebo que minha vida se relaciona com minhas inspirações.
Estive em Angola , durante três meses. Foi uma das experiências mais incríveis que já tive em minha vida. Ainda sinto uma certa dificuldade em descrever esse sentimento, mas eu sinto tanto. Eu sonho com esse lugar… A cidade de Luanda está presente em meus sonhos. Durante o sonho, sei que estou lá quando olho meus pés descalços no chão de terra vermelha.
Nos próximos meses, farei uma exposição em São Paulo. Essa exposição será resultado do estudo que pude realizar em Angola. Parte dessa pesquisa abordará o tema de crenças populares angolanas e brasileiras, magias e medicina tradicional. Algo que sempre me chamou a atenção na cultura brasileira e em Angola não poderia ser diferente.
Brasil e Angola, têm suas histórias cruzadas, atravessadas pelo atlântico. Aqui vivemos sua diáspora Bantu, arraigado na língua, na música, costumes e religião.
Ainda estou na minha terceira pintura, sinto-me cada vez mais grata.
Atualmente trabalho com pinturas em tela, e retrato majoritariamente mulheres afrodiasporicas dentro do cenário brasileiro, navego entre memórias, cotidiano, corpo, desejo e muitas delas podem ser confessionais.
Alguns de meus processos, eu começo sem saber a história e tempos depois , entendo o que determinada pintura queria me contar. Acho isso interessante.
Gosto de experimentar diferentes tipos de materiais e formatos.
Crio texturas com pedras, coleciono pequenos objetos encontrados, como búzios, azulejos, miçangas, retalhos de tecidos e tecidos bordados… Essa materialidade me faz pensar na construção de uma casa, faz pensar em memória e proteção.
Acredito que ser autodidata, me proporcionou a curiosidade e liberdade para a experimentação, resultando na descoberta de diferentes possibilidades. Mas acho que além da técnica, existe a verdade, fazer o artístico com a nossa verdade, nasce a própria identidade.
Escrever esse texto, soa como um diário pra mim.
Desejo que essas pinturas que ainda estão nascendo, possam despertar memórias e a reconexão com os aprendizados que tivemos com nossos ancestrais.
Para saber mais sobre Larissa pesquise @azuolarissa // www.simoesdeassis.com/artistas/larissa-de-souza
Photos: Anita Goes