Meus dias no estúdio geralmente começam comigo tentando, sem muito sucesso, começar antes do meio-dia. Normalmente prefiro terminar os projetos antes da hora do jantar, mas isso raramente acontece. Entre 14h e 23h, hoje em dia, parecem ser meus melhores horários criativos. Moro bem longe do estúdio que fica em Greenpoint então dirijo, por cerca de meia hora, uma motocicleta. Durante o trajeto é uma boa maneira de organizar meus pensamentos para o dia.
Divido esse estúdio com outras pessoas há um ou dois anos e me sinto afortunado. A energia da criação, os detalhes do trabalho, dos projetos e equipamentos desse coletivo são sempre uma constante fonte de inspiração para mim, assim como a fantástica vista da janela e o design do espaço feito pelo meu amigo Danny K Taylor, também conhecido como House Under Magic, famoso pelo Eavesdrop.
Os dias no estúdio, nem sempre consistentes, variam muito dependendo se estou trabalhando com um cliente, um colaborador ou apenas sozinho. Mas é muito diferente se estou tentando terminar algo que já está em andamento ou se estou tentando encontrar uma nova ideia. Meus momentos favoritos são os raros em que venho aqui como uma tela completamente em branco e me permito criar algo do zero. Quando faço isso, dou início no computador, programo algumas baterias básicas no Ableton e em seguida vou para o teclado tentando encontrar alguma idéia harmônica ou melódica. Sou muito orientado para o ritmo na minha escrita, então quase sempre começo com a bateria ou pelo menos o ritmo da música, mesmo que acabe sendo descartado eventualmente.
No início do processo tendo a não ficar muito preso às características de sons específicos e me contento com coisas que podem ser vagamente próximas daquilo que eventualmente irei querer quanto ao som e timbre.
Me sinto mais ágil para concluir desde a conceituação de uma música até sua conclusão. Recentemente consegui completar uma música em uns três dias, inédito comparando com alguns anos atrás.
Tenho formação em cinema, e a prática de estúdio é muito influenciada por isso. Agrupo muitas opções e tomadas diferentes, e a maioria da minha composição assume a forma de edição.
Ultimamente tenho desfrutado do privilégio de ter janelas voltadas para o pôr do sol. Então tento, quase todos os dias que trabalho aqui, passar aquela meia hora até uma hora quando o sol está se pondo, improvisando ou experimentando de alguma forma, enquanto olho pela janela.
Em outras épocas tive home studios, ou outras situações como a atual, um espaço profissional partilhado e em outros momentos fui totalmente itinerante trabalhando, enquanto viajava, em estúdios de outras pessoas. As três configurações têm seus benefícios mas ultimamente tenho sido mimado pelo tempo e espaço neste lugar.
Sou mimado pelo tempo e espaço neste lugar. O verdadeiro luxo de não trabalhar em home studio é não ter que se preocupar com os vizinhos porque ou você os perturba ou eles perturbam você. Outro grande benefício é a separação entre vida pessoal e criativa. Embora às vezes sinto falta de ter minhas ferramentas musicais o tempo todo à mão.
Se você gostaria de conversar com o Gabriel e aprender mais sobre o negócio da música, siga-o no Instagram @eleseenmusic
Fotos: Anita Goes