O meu dia a dia depende muito da parte do processo que estou, mas geralmente são 2 semanas do mês modelando e dando acabamento nas peças, e esmaltação na terceira. Procuro não sentar no computador na primeira parte do dia, porque os emails tendem a comer o tempo e o dia acaba passando sem eu ter feito o trabalho manual. Também acho que sou mais produtiva no começo do dia ou depois do jantar. A hora que o sol se põe é o momento em que me sinto pronta para encerrar o dia ou dar uma pausa para cozinhar o jantar.
Essa separação/conexão da casa e ateliê que estão em um mesmo lugar é algo que descobri que funciona bem para mim. Eu otimizo o tempo entre idas e vindas, mas os espaços são minimamente separados, evitando distrações. Consigo voltar a trabalhar mais um pouco à noite, antes de dormir..
Toda a minha pesquisa está diretamente ligada à vida ao redor, aos pequenos acontecimentos dos dias e seus rituais. Um trabalho de cores, repetição de formas e gestos que correspondem à prática do fazer manual e questionam a funcionalidade do objeto vs o seu caráter escultórico. O objeto utilitário produzido em uma pequena edição ou como peça única, é o registro da investigação desse processo do fazer.
Por instância, a argila é a matéria que mais utilizo. Técnicas de modelagem manual e uso do torno para a produção dos trabalhos, engobes e argila esculpida com padronagens que adicionam textura e cor às formas simples de objetos que ocupam a casa das pessoas. Os trabalhos passam por queimas de temperaturas variadas, dependendo do resultado que desejo atingir. Também recorro ao uso de diferentes argilas, migrando da mais clara para a mais escura e vice-versa, para obter diferentes efeitos, texturas e cores utilizando a mesma cartela de cores de esmaltes. Raramente eu desenho no papel antes de fazer. A experimentação acontece direto na modelagem; para uma peça em maior escala, faço uma maquete simples pequena para entender as proporções do objeto.
Meu universo de referências também caminha pela tradição japonesa do fazer manual, o craft, mingei. Acredito que seja o jeito que encontrei de me aproximar de meus ancestrais. Neta de imigrantes japoneses, sem nunca ter visitado o Japão, fico sonhando acordada, criando a minha ideia desse país e lidando com o sentimento de não pertencimento a lugar algum.
Você pode descobrir mais sobre Dani através do site: https://danielleyukari.com/ @danielle.yukari
Fotos: Anita Goes
Design de Flores & cenário: Green Sprout Studio @greensproutstudio33