Me mudei do Rio de Janeiro, de onde originalmente sou, para São Paulo no ano de 2011, após participar de uma importante exposição, a Transfer, realizada no Pavilhão das Culturas Brasileiras. Desde que me mudei para São Paulo, esse é o meu quarto estúdio. Divido o espaço do estúdio com outros artistas que têm habilidades variadas, não limitadas apenas à pintura. São pessoas que também têm muita habilidade em trabalhos manuais, como esculturas e marcenaria.
A ideia é que esse espaço seja um lugar de criação em mídias variadas, onde se possa experimentar e colaborar livremente. Aqui, podemos explorar diversas formas de expressão artística, desde pinturas e esculturas até objetos e instalações complexas, fomentando um ambiente de inovação e troca de conhecimento.
Sou basicamente um artista autodidata. Apesar de ter estudado design gráfico, não tenho uma formação acadêmica ou técnica em artes. Quase tudo o que aprendi foi na base de experimentos, erros e acertos, além da minha experiência como artista urbano e do graffiti, onde desenvolvi meu estilo. Nos últimos anos, tenho inserido em meus trabalhos de pintura a colagem de outros materiais. Inicialmente, comecei com colagem de papéis e hoje trabalho com aplicações de chapas recortadas de madeira, que adicionam volume às minhas obras. Essa é minha forma de “reinventar” a pintura, já que meu trabalho é muito gráfico e definido por formas chapadas de cor.
A partir desses novos experimentos com volumes, iniciei uma série de objetos em grande escala, trabalhando a tridimensionalidade usando a interseção de formas bidimensionais. Esses experimentos são inspirados nos trabalhos dos artistas Rubem Valentim e Alexander Calder. Tenho trabalhado muito com madeira, um material que me atrai por sua manualidade e versatilidade. É possível manipular a madeira com ferramentas simples, o que dá várias possibilidades ao trabalho, permitindo-me explorar suas texturas e formas de maneira bem tátil e intuitiva.
Eu não sou uma pessoa naturalmente organizada. Por isso, me forço a criar e manter rotinas para que eu não perca meu foco. Tento manter horários regulares e a organização do estúdio é crucial para isso. Tenho meus rituais diários de organização do meu espaço de trabalho, o que ajuda a “dar partida” no meu cérebro para iniciar o dia. Essa rotina que crio para me manter organizado se reflete em meu processo de trabalho. O racional é muito importante na minha arte. Há uma fase de projetar que é tão importante quanto a execução. Quando tenho uma ideia, às vezes passo dias rabiscando e pensando no que quero fazer, experimentando ideias parecidas até chegar em algo que quero realmente desenvolver.
Gosto de ter um plano básico para me guiar durante o desenvolvimento, mas isso não me impede de estar aberto ao que o acaso traz para o processo. O acaso, às vezes, nos apresenta um caminho mais interessante do que era o plano original. Resumindo: a ideia é ter um plano, mas não ficar preso a ele.
Para saber mais sobre Lelo: @lelo021
Fotos no estúdio: Anita Goes // Fotos dos murais e escultura: Lelo e seus amigos