Helena Kozuchowicz

Helena Kozuchowicz é uma artista visual brasileira reconhecida por seu estilo fluído e gestos ousados, que capturam a essência do cotidiano através de uma perspectiva única da figura no espaço. O desenho tem sido central na prática do artista desde cedo, e as sinuosas linhas de carvão e as pinceladas de cor a óleo ao longo dos trabalhos recentes demonstram uma facilidade técnica cheia de energia e elegância, influenciada por artistas Egon Schiele e Alberto Giacometti. As narrativas implícitas e o impacto que cada imagem transmite dependem exclusivamente da imaginação do espectador.

Acredito que a essência da vida está nos breves momentos que antecedem ou sucedem alguma situação programada, nos entre espaços dos acontecimentos. No ensaio e não na peça. A espera de alguém em um restaurante, a ansiedade antes de entrar em cena, uma simples troca de olhares. Desenhar sempre foi uma forma de manter aquilo que tenho de mais precioso: minha vitalidade. Eu me nutro do movimento. Pela surpresa, pela imprecisão. A partir disso, o traço nasce se transformando em desenho e ritmo.

Os desenhos surgem dos momentos de ação rápida, do que foi visto e, geralmente, seria esquecido. Nasce da minha inquietação. Eric Fischl disse uma vez: “O que procuro é o efeito do momento em si: as pessoas, o conteúdo emocional. Estou tentando parar o momento onde ele está aberto o suficiente para permitir que você entre”. Essas palavras ressoam em mim e se aplicam diretamente a minha prática.

A escala-humana ou maior dos trabalhos são importantes para o meu processo. Fluem ao longo da linha de carvão, como se meu gesto se refletisse na tela. Desenho, apago e desenho novamente. É um ato de caça, buscando capturar e preservar. A obra serve como um registro dessa busca, uma ação semelhante a pegadas deixadas na neve.

Os resultados me surpreendem e me motivam a seguir em frente. Então, eu paro, observo; focando no gesto e na expressão. Analiso com atenção, sabendo que com esse trabalho eu enalteço momentos muitas vezes ignorados pela maioria das pessoas.

Eu diria que minha pintura começa no momento em que saio do meu apartamento. Pegando o metrô, atravessando as ruas, até finalmente entrar no meu estúdio, quando a verdadeira magia acontece. Conhecer pessoas, contemplar as ruas, visitar colegas em seus estúdios e observar os seus gestos; todos esses momentos se transformam em cenas inspiradoras para mim. O cenário de Nova York torna-se meu espetáculo, onde nascem os primeiros traços das pinturas.

Minha força está no trabalho com linha e, embora eu trabalhe maioritariamente com carvão, muitos trabalhos pedem cor. Digo que o trabalho pede, por não ser uma decisão racional de fato. Sem seguir uma regra muito precisa, diversas vezes começo a pintura com óleo bastante diluído imprimindo a forma principal, e desse momento em diante a tela se transforma em uma pintura aquarelada, ou muitas vezes grossa. Gosto de explorar a textura que a tinta óleo oferece, e pra isso trabalho bastante com espátulas no lugar do pincel.

Tive o privilégio de ter minha primeira educação artística formal na Academia de Arte de Nova York onde me formei em maio de 2024, lá eu pude trocar e me conectar com diversos artistas, um ambiente de produção conjunta ainda que cada um em seu atelier. Com foco em pintura figurativa, tínhamos aulas com modelos nus todos os dias variando desenho, pintura e escultura. A tecnicidade profunda do desenho da figura- humana me preparou bastante pro traço livre.

No segundo semestre de 2024 me mudei para um estúdio em DUMBO – Brooklyn, NY onde sigo trabalhando. Desejo receber visitas para produzir retratos em paralelo ao trabalho pessoal.

A fotografia é imprescindível para o meu trabalho. Tiro foto de cenas que me intrigam no dia a dia e as levo para o estúdio. Outras vezes faço um esboço de uma cena em meu caderno e a partir desses “projetos” começo os primeiros traços na tela.

Dificilmente sigo as características da imagem original na pintura, durante o processo ela vai se nutrindo sozinha e acaba se transformando em outra coisa. É sempre uma surpresa, e isso me impulsiona e inspira às próximas.

Para saber mais sobre Helena: @helenakozu

Graduada em Arquitetura pela Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, Kozuchowicz tem explorado as interseções entre arquitetura e arte. A artista apresentou sua primeira exposição individual, “Presença”, no Consulado Brasileiro de Nova York, enquanto completava seu mestrado na New York Academy of Art, onde se formou em 2024.

“Presença” coloca as pessoas como protagonistas em cenas íntimas que a artista apresenta durante sua mais recente série de pinturas e desenhos vibrantes. No entanto, não são personagens heroicos; nem são assuntos abjetos ou trágicos. As figuras anônimas parecem arquetípicas e às vezes familiares, mas as composições não são retratos em sentido convencional. Em vez disso, Kozuchowicz concentra-se nas atividades cotidianas nas quais uma figura ou pares de figuras interagem entre si e com o espaço ao seu redor de maneiras que normalmente passam despercebidas pela maioria de nós.

Em cada obra, a artista brasileira convida o espectador a desacelerar, a observar as sutis nuances da linguagem corporal e da interação humana. Assim, em cada composição uma narrativa é proposta e ações comuns transmitem um significado extraordinário. Em sua obra, o prosaico cede a algo poético, aspectos intimistas tornam-se evidentes. Com formação em arquitetura, Kozuchowicz tem uma sensibilidade especial para o espaço construído e as relações espaciais. Ela examina como as figuras ocupam uma variedade de ambientes – desde o ambiente rarefeito do estúdio do artista, uma sala de jantar familiar, ou até mesmo os espaços apertados de um vagão do metrô. As formas arquitetônicas, entretanto, estão simplesmente implícitas e não descritas.

Fotos no estúdio da artista: Anita Goes

Fotos da exposição ‘Presence’, cortesia da artista

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