Video: Lee Landell (3rd❚third)
Foto: Anita Goes
Palavras: Anita Goes & JKriv
Brooklyn, 2025

Desde jovem JKriv era um colecionador apaixonado, de música. Crescendo numa época em que as lojas de discos vendiam fitas cassete, CDs e vinis lado a lado, ele explorava todos os formatos — com suas primeiras compras em fita cassete e um interesse crescente pelo vinil que se consolidou no início dos anos 2000.

A ideia de fundar seu próprio selo não veio de imediato — por muito tempo, seu foco estava totalmente em tocar e produzir música. Mas, cerca de 12 anos atrás, quando começou a se dedicar mais seriamente ao trabalho de DJ, o conceito surgiu naturalmente: criar uma plataforma para lançar suas próprias faixas. Essa fagulha inicial cresceu e se transformou em algo muito maior — a Razor-N-Tape, um selo baseado no Brooklyn que hoje é uma referência em disco moderno, edits, deep house e faixas de pista que desafiam gêneros e refletem a trajetória musical eclética de JKriv.

Jason Kriveloff, conhecido artisticamente como JKriv, é natural de Nova York e cresceu cerca de uma hora ao norte da cidade, numa área suburbana onde sua família tem raízes antigas. Há 25 anos, ele vive no Brooklyn.

Seu caminho na música começou cedo — por volta dos 12 anos de idade — quando começou a tocar baixo e guitarra, inicialmente atraído pelo rock, mas expandindo aos poucos sua escuta para os grooves do funk e soul dos anos 1970, e depois para o jazz. Essa curiosidade musical ampla lançou as bases para o que se tornaria uma paixão profunda pela música de pista, pelo disco e pela cultura do clube.

No período dos últimos 10 a 15 anos, ele produziu a maior parte de sua música a partir de um estúdio compacto em seu apartamento no Brooklyn. Embora o espaço não seja adequado para gravações ao vivo com banda completa, funciona perfeitamente como seu centro criativo — um lugar onde produção digital e elementos ao vivo se unem organicamente.

A conexão de JKriv com o Brasil começou ainda na época dos estudos, quando um professor de jazz o apresentou à música brasileira através da bossa nova e da MPB. Esse primeiro contato o levou a tocar em um grupo de jazz brasileiro em Nova York, a se relacionar com uma cantora do Rio de Janeiro e, eventualmente, a realizar várias viagens prolongadas ao Brasil no início dos anos 2000. Desde então, a música e a cultura brasileiras tornaram-se centrais em sua vida e trabalho. Nos últimos 7 anos, ele tem se apresentado anualmente no Festival Mareh durante o réveillon, aproveitando a ocasião para viajar e colaborar musicalmente pelo país.

“Entrei na música brasileira por meio de um professor de jazz com quem também tocava. Ele me apresentou a esse universo através do jazz brasileiro e da bossa nova — ele era muito fã de artistas como João Bosco, Toninho Horta e outros dessa cena. Esse foi meu ponto de entrada”.

As colaborações de JKriv com artistas brasileiros se desenvolveram de forma orgânica ao longo do tempo. Às vezes ele descobre novos talentos; em outras, eles o encontram. Um exemplo é Diogo Strausz, produtor que assina com a Razor-N-Tape. Juntos, lançaram faixas, fizeram remixes e estão atualmente trabalhando em material inédito. Essas parcerias são uma extensão natural da jornada musical de JKriv e refletem sua abertura para colaborações criativas.

Olhando para o futuro, ele vê a trajetória da Razor-N-Tape como uma continuação de sua missão original: lançar música de qualidade, apoiar vozes autorais e construir uma comunidade global. A loja física em Greenpoint, no Brooklyn, tornou-se ao mesmo tempo um espaço de varejo e um ponto de encontro cultural, reforçando o papel da Razor-N-Tape na cena musical local e internacional.

“Vi a cena musical de Nova York mudar muito ao longo do tempo. Dos anos 2000 até hoje, ela passou por vários ciclos — ondas de crescimento, mudanças de energia e até mudanças geográficas de onde as coisas acontecem. Apesar de tudo isso, continuo achando a cena extremamente inspiradora. Há muito talento e criatividade aqui; as pessoas estão sempre ultrapassando limites e fazendo coisas incríveis.
Claro, pode ser difícil — é Nova York, afinal. Mas mesmo com esses desafios, percebo que existe um verdadeiro senso de apoio e comunidade entre artistas e músicos”.

Quando perguntei a JKriv quantos discos ele tem, o que há em sua coleção e se ele consegue realmente encontrar o que procura, sua resposta veio com um sorriso largo. “Essa é uma ótima pergunta”, disse ele. “Tenho cerca de 4 mil discos no meu apartamento, mas muito mais em um depósito — afinal, estamos falando de Nova York. Você precisa guardar algumas coisas fora de casa.”

Os que mais importam para ele ficam por perto, em casa — e felizmente, ele acaba de reorganizar tudo. “Então sim”, riu, “consigo achar o que preciso.”

A coleção pessoal de escuta — jazz, soul, um pouco de rock e ambient — é especialmente bem cuidada, organizada em ordem alfabética e fácil de acessar. Os discos que ele usa para discotecar, no entanto, estão organizados de forma mais solta, por gênero e atmosfera. “Provavelmente eu precisaria de um estagiário para catalogar tudo isso com mais detalhe”, brincou. “Mas por enquanto, se eu preciso de um disco, consigo encontrar.”

Jason também faz parte de uma banda ao vivo que se apresenta no Public Records, no Brooklyn. A ideia por trás das noites é fundir música ao vivo e sets de DJ em uma experiência coesa de clube — algo que ele sentia faltar na cena atual. Inspirada pelo final dos anos 1990 e início dos anos 2000 em Nova York, quando era mais comum ver jazz e instrumentação ao vivo integrados à vida noturna, a banda — conhecida como A Joyful Noise ou The Joyful Noise Band — busca resgatar esse espírito com uma abordagem atualizada.

Cada noite é gravada, e com mais de 20 sessões já captadas, Jason e sua equipe estão agora se preparando para lançar um disco com algumas dessas performances ao vivo no próximo ano.

Razor-N-Tape: @razorntape
JKriv: @jkriv
Lee Landell: @lee_landell
Anita Goes: @anitagoes